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Livro mostra a importância de viagem à Europa na formação de Afonso Taunay

Afonso Taunay (à esquerda): obra traz à tona diário escrito pelo engenheiro
Afonso Taunay (à esquerda): obra traz à tona diário escrito pelo engenheiro

O livro A viagem como missão – Afonso Taunay na Europa (1909), organizado por Wilma Peres Costa e Carlos Lima Junior, aborda a transformação do jovem engenheiro Afonso Taunay em historiador por meio de uma viagem à Europa, em 1909. Trata-se de uma obra que, segundo seus organizadores, “poderá interessar a muitos públicos, dada a sua diversidade de temas, como história, turismo e teatro”.

De acordo com os organizadores, o livro faz com que seja possível compreender “alguns bastidores da narrativa histórica que estava sendo gestada e que iria florescer no Museu do Ipiranga, bem como conferir um vivo testemunho dos modos de viajar no início do século XX, no universo das elites letradas”. Leia, a seguir, a entrevista com os autores da obra.

Jornal da Unicamp – O que os motivou a organizar um livro a respeito da viagem de Afonso Taunay à Europa?

Wilma Peres Costa e Carlos Lima Junior – A ideia do livro nasceu de um encontro nosso, fortuito, no interior do arquivo do Museu Paulista da USP [Universidade de São Paulo] em 2016. Na época, ambos estávamos interessados em um mesmo documento – no caso, o diário escrito por Afonso Taunay (1876-1958) sobre a sua estada na Europa. Ao longo do fraterno convívio afetivo e intelectual que a partir daí se desenvolveu, decidimos empreender a aventura da transcrição do caderno de viagem, o que acabou se transformando em um vasto empreendimento coletivo.

O livro, publicado pela Editora da Unicamp, traz à luz um documento inédito: o diário escrito por Afonso Taunay durante sua viagem para e estada em Paris, em 1909, na companhia de sua esposa, Sarah de Souza Queiroz.

Resultado de paciente trabalho de transcrição e seguido de notas técnicas e explicativas, o texto do diário é apresentado na íntegra e enriquecido por quatro ensaios analíticos – dois de nossa autoria e os demais de Joana Monteleone e Lúcia Guimarães –, que procuram iluminar as diversas facetas contidas no manuscrito.

JU – Na opinião de vocês, quais contribuições Taunay trouxe para o Brasil a partir dos estudos feitos na Europa?

Wilma Peres Costa e Carlos Lima Junior – O diário registra um período de 114 dias (as anotações vão de 26 de maio a 15 de setembro de 1909), dos quais 16 transcorreram a bordo (sendo um deles em Lisboa), 65 dias em Paris e uma vilegiatura de 33 dias entre Suíça, Itália e Alemanha. Portanto, o livro oferece um vivo panorama dos modos de viajar das elites brasileiras e sul-americanas no início do século XX e das formas de sociabilidade por elas cultivadas no Velho Mundo.

Ao mesmo tempo, a respeito da longa estada do casal em Paris – cerca de oito meses –, o livro registra o périplo do jovem engenheiro Afonso Taunay por bibliotecas, arquivos e museus da Europa, em uma rica viagem de formação como historiador. Sua trajetória principia pela busca das raízes familiares, sobretudo das fontes para reconstruir a história e a fortuna crítica do pintor Nicolas- Antoine Taunay, seu bisavô que viera ao Brasil em 1816 como integrante da Missão Artística Francesa. A viagem revela também um pouco das suas estratégias para posicionar-se no universo das elites letradas paulistas, nas quais acabava de ingressar pelos laços de casamento.

JU – A viagem à Europa influenciou o período de Taunay como diretor do Museu Paulista? De que forma?

Wilma Peres Costa e Carlos Lima Junior – Afonso Taunay tornou-se diretor do Museu  Paulista  em  1917, tendo assumido o posto ciente de que prepararia a instituição para as celebrações do Centenário da Independência, que ocorreriam em 1922. Para a formulação do projeto decorativo é certo que o historiador lançou mão dos modelos que viu na Europa. Até porque, como ele mesmo registrou em seu diário, durante sua estada na França, percorreu uma série de museus históricos, entre os quais o Carnavalet e o de Versalhes.

Nessas instituições, as obras visuais, como suportes para representar o passado, desempenharam papel primordial. Para além dos museus, Taunay foi um assíduo frequentador de óperas. Esse dado não pode passar despercebido para alguém que, no Ipiranga, foi o responsável por criar uma “teatralização” da história nacional, a partir de pinturas e esculturas, todas concebidas com gestos e poses, com frequência, repassados por ele aos artistas contratados para fabricar as imagens do museu.

JU – Quais foram os principais desafios no processo de transcrição do diário do historiador?

Wilma Peres Costa e Carlos Lima Junior – O processo de transcrição do diário contou com o trabalho dedicado de Amanda Carvalho, Josiane Nunes Sampaio, Heloisa Mariani Pavoni, Thaís Aparecida Fogaça e Marcus Ozores, habilidosos na arte da paleografia e que também ficaram responsáveis pela elaboração das notas explicativas. Para tanto, foram realizadas pesquisas em diversos sites, hemerotecas e bibliotecas do Brasil e da França, permitindo a escrita de notas que iluminam a compreensão do diário. É consenso, para quem estuda Afonso Taunay, o aspecto de sua difícil caligrafia, algo que ele próprio reconhecia. Desse modo, o trabalho exigiu intensa checagem do original com a transcrição para evitar eventuais equívocos que alguma letra (difícil) poderia ocasionar.


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Título: A viagem como missão – Afonso Taunay na Europa (1909)

Organizadores: Wilma Peres Costa e Carlos Lima Junior

Edição: 1a

Páginas: 248

Dimensões: 16cm x 23 cm

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