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Políticas públicas de inovação devem abranger diferentes grupos, sugerem pesquisadores

O trabalho foi publicado na revista internacional Research Policy
O trabalho foi publicado na revista internacional Research Policy

A relação entre o desenvolvimento tecnológico e o crescimento econômico de um país é fundamental e complexa. Nesse contexto, as inovações tecnológicas desempenham um papel vital na melhoria da eficiência econômica, na criação de novos produtos e mercados e no aumento da capacidade de uma nação de competir globalmente. A forma como se abordam as políticas públicas de inovação, por sua vez, exerce um papel crítico no direcionamento e distribuição dos benefícios gerados, devendo garantir que a inovação seja um motor para um progresso econômico sustentável, inclusivo e promotor de bem-estar social.

Em uma pesquisa desenvolvida durante cinco anos, em parceria com universidades estrangeiras, pesquisadores da Unicamp sugerem, com base nos dados analisados, que, para promover um crescimento econômico inclusivo, as políticas de inovação não devem se restringir ao fomento de tecnologias emergentes – ou seja, aquelas que “estão na moda” –, mas sim compreender conjuntos abrangentes, desenvolvendo combinações de políticas com diferentes objetivos, requisitos e arranjos institucionais. O trabalho foi publicado na revista internacional Research Policy, uma das mais respeitadas publicações cientificas na área de economia da inovação.

O grupo realizou a mineração e análise de dados sobre patentes em bases mundiais (Banco Mundial e Organização Mundial de Propriedade Intelectual, Ompi), extraindo informações relativas a 96 países e englobando um período de mais de 40 anos (1980 a 2021). Os pesquisadores elaboraram, ainda, um mapa sobre a dinâmica do conhecimento tecnológico, explorando as relações entre as taxas de crescimento dos países e o papel desempenhado pelos agrupamentos tecnológicos.

Bruno Brandão Fischer, especialista em economia e gestão da inovação e docente da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, explica que os pesquisadores investigaram se países em diferentes níveis de desenvolvimento compartilham perfis de aprimoramento tecnológico semelhantes e como os padrões desse aperfeiçoamento mudaram ao longo do tempo. Os cientistas valeram-se de dois métodos analíticos complementares: a análise de dados com o método generalizado de momentos (GMM, na sigla em inglês) e a análise qualitativa comparativa com conjuntos fuzzy (fsQCA, na sigla em inglês). Ambas as abordagens, técnicas avançadas usadas para investigar relações e padrões em contextos complexos, são frequentemente aplicadas em estudos que envolvem fenômenos sociais e econômicos.

“O trabalho usa uma abordagem inovadora acerca de um tema central em estudos de macroeconomia. Aplicamos uma combinação de métodos econométricos para identificar quais grupos de tecnologia (e suas respectivas combinações) apresentam maior associação com processos de crescimento econômico. Os grupos tecnológicos foram identificados por meio de uma combinação de dados acerca do seu peso na atividade tecnológica global e da sua dinâmica ou taxa de crescimento”, explica Fischer.

O professor Bruno Brandão Fischer: “Os esforços realizados em termos de desenvolvimento tecnológico são mal direcionados”
O professor Bruno Brandão Fischer: “Os esforços realizados em termos de desenvolvimento tecnológico são mal direcionados”

Os resultados obtidos são inéditos e demonstram que certos grupos tecnológicos, divididos pelos pesquisadores em emergentes, estabelecidos, defasados, de excelência, e orientados a oportunidades, estão associados de maneiras distintas ao ritmo de crescimento econômico de países de renda baixa, média e alta. “Os resultados evidenciam que a dinâmica tecnológica pode influenciar o crescimento econômico por meio de diferentes combinações de grupos tecnológicos, o que sugere novos caminhos para se pensar as políticas industriais e de inovação”, afirma Fischer.

Ter ciência disso mostra-se algo importante para Foto: Antonio Scarpinetti qualquer país, mas, especialmente, para os de baixa renda e de renda média, como o Brasil. Isso porque os resultados ampliam a compreensão sobre como a matriz produtiva pode ser moldada a fim de acelerar processos de desenvolvimento econômico e social.

“Há muito debate sobre as prioridades para as iniciativas orientadas à capacitação tecnológica, mas é preciso reconhecer que os recursos disponíveis são escassos (tanto públicos como privados) e que diferentes áreas tecnológicas – conforme indicam nossos resultados com bom grau de robustez – acabam por promover níveis distintos de ganhos para a sociedade em termos de incremento da renda. O que nossa pesquisa explora é justamente quais portfólios de tecnologia possuem maior capacidade de geração de ganhos desse tipo.”

O trabalho aponta que, no Brasil, a matriz produtiva é fundamentada há décadas no que foi identificado como tecnologias estabelecidas e tecnologias de baixo dinamismo, campos com potencial reduzido quanto ao incremento sustentado de renda. Conforme esclarece a pesquisa, uma reorientação da matriz industrial exige comprometimento coordenado de diversas esferas associado a uma visão de longo prazo. “Sem esse tipo de iniciativa, dificilmente o país deixará a condição de uma nação de renda média, alternando períodos ocasionais de crescimento com outros de contração da atividade econômica. O principal ponto, no caso brasileiro, é que os esforços realizados em termos de desenvolvimento tecnológico são mal direcionados.”

A pesquisa faz parte do projeto Innovation Systems, Strategies and Policies (sistemas, estratégias e políticas de inovação, em tradução livre), sediado no Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp e resultado de uma linha de fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) chamada Spec (sigla em inglês para Cátedra de Excelência de São Paulo), cujo foco principal são os avanços científicos com base em interações internacionais.

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