![Sinergia entre madeira e concreto em pisos: um caminho para realizar o sonho da casa própria dos brasileiros](https://www.jornal.unicamp.br/wp-content/uploads/sites/32/2024/05/Ensaio-Flexao-CLT-Concreto.jpg)
Materiais unidos pelo benefício
Combinação de madeira engenheirada com concreto gera lajes mais sustentáveis e acessíveis
Marina Gama
Texto
Antonio Scarpinetti | Ramon Vilela Bergamin/Reprodução
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O alto custo envolvido na obtenção da casa própria ainda é um desafio para boa parte dos brasileiros. Contudo, é possível que o uso combinado de madeira e concreto em pisos seja um caminho para tornar esse sonho acessível. Uma tese de doutorado defendida por Ramon Vilela Bergamin na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (Fecfau) da Unicamp investigou métodos para combinar os dois materiais com diferentes tipos de conectores mecânicos, na busca por lajes com rigidez e resistência adequadas para a aplicação com segurança em edifícios.
![Detalhe da junção entre a madeira e o concreto: conectores mecânicos foram desenvolvidos no Brasil](https://www.jornal.unicamp.br/wp-content/uploads/sites/32/2024/05/ilustracao.jpg)
A pesquisa foi realizada sob a orientação do professor Nilson Tadeu Mascia, do Departamento de Estruturas da Fecfau, e explorou a união de madeira engenheirada – placas de madeira laminada cruzada (CLT, na sigla em inglês) – com concreto a partir da realização de estudos sobre métodos mais eficazes para juntá-los, mantendo o bom aproveitamento das características de cada material. Um dos aspectos fundamentais do estudo consistiu no desenvolvimento de conectores mecânicos adequados para unir a madeira e o concreto. Ainda que esse tipo de material já exista em países europeus, a pesquisa de Bergamin conduziu testes para encontrar a melhor forma de produzir uma versão brasileira resistente e com um custo competitivo.
As placas podem, de acordo com os ensaios, suportar até 24 toneladas em um vão de aproximadamente quatro metros. Além das vantagens estruturais, o novo método de construção também traz benefícios em termos de redução de valores e eficiência da mão de obra. Segundo o engenheiro civil, com essa técnica, grande parte do trabalho pode ser realizado em ambiente controlado dentro das fábricas, diminuindo o tempo gasto no canteiro de obras e tornando o processo de construção mais ágil e salubre. “Em uma alvenaria convencional, tenho que colocar tijolo por tijolo, escorar a estrutura, colocar uma abertura e tudo mais. A partir da nossa proposta, monto essa parede inteira em alguns minutos. Isso também tem a ver com a agilidade na montagem”, explica.
![O pesquisador Ramon Vilela Bergamin: possibilidade de redução de custos da construção](https://www.jornal.unicamp.br/wp-content/uploads/sites/32/2024/05/20240422_3_Ramon-Vilela_Madeira_concreto_FEC_FAU_scarpa_AJS_3027.jpg)
Bergamin acredita que, no curto prazo, sua pesquisa possibilita a redução dos custos de construção e permite a um número maior de pessoas ter seu próprio imóvel. “Grande parte das estruturas de madeira engenheiradas do país é usada em casas de alto padrão. A ideia, com essa pesquisa, é construir edifícios a partir desse método, conseguir baixar a régua [do custo] e tornar a empreitada mais acessível ao público médio.” E as perspectivas são otimistas, de acordo com o pesquisador. Em agosto está previsto o lançamento de um edifício na cidade de Suzano que utiliza a solução de lajes em CLT com concreto resultante da pesquisa de Bergamin.
Tração e compressão
Bergamin explica que a madeira possui alta resistência à tração, enquanto o concreto é mais resistente à compressão. Ao combinar esses materiais, foi possível criar uma composição que aproveita o melhor de ambos, resultando em uma rigidez superior à da madeira isolada e um custo-benefício melhor que o envolvido na utilização exclusiva do concreto. “Se eu tracionar a madeira, o comportamento será muito bom, pois a madeira tem uma resistência muito alta. Por outro lado, o concreto não tem uma resistência tão grande à tração, mas a possui em relação à compressão. Então, criamos uma composição em que o concreto trabalhará em um regime no qual será, praticamente, só comprimido. E a madeira atuará majoritariamente em situações nas quais será tracionada”, explica o pesquisador.
Bergamin destaca, em sua tese de doutorado, o potencial sustentável da utilização da madeira e do método proposto, especialmente quando esse material é proveniente de reflorestamento e leva em consideração questões ambientais. “Ao ser usada em associação com o concreto, a quantidade de madeira utilizada é suficientemente maior do que a de concreto a ponto de o volume de CO emitido na produção do concreto equivaler ao volume sequestrado durante o crescimento da madeira. Então, é possível termos edifícios com emissão zero de carbono ou até mesmo com emissão negativa.”
![O professor Nilson Tadeu Mascia: obtenção de um material mais sustentável](https://www.jornal.unicamp.br/wp-content/uploads/sites/32/2024/05/20240422_3_Nilson-Tadeu-Mascia_Madeira_concreto_FEC_FAU_scarpa_AJS_3006.jpg)
Mascia explica como outros materiais usados no processo de elaboração desses painéis, como os adesivos de conexão da madeira com o concreto, ainda geram um impacto ambiental considerável e são atualmente objeto de pesquisas realizadas na Escola de Engenharia de São Carlos (Eesc) da Universidade de São Paulo (USP). Esses estudos visam criar alternativas que tornem o material “mais verde”. Falta, segundo o orientador, encontrar uma forma de torná-lo economicamente viável.
Parcerias
O estudo que resultou no doutorado de Bergamin só se tornou viável após uma parceria firmada por Mascia com uma empresa de painéis de madeira da cidade de Suzano (SP). O pontapé para essa aliança, conta o docente, aconteceu após uma palestra dada pelo fundador da empresa para estudantes da Unicamp. Sabendo do interesse de Bergamin, o docente propôs uma bolsa para que o então aluno de mestrado seguisse pesquisando o uso da madeira na construção civil. A empresa aceitou oferecer os materiais e o espaço para a realização de testes.
“Foram os maiores ensaios que já fizemos com estruturas de madeira, ou madeira-concreto, ou de uma composição, na história da faculdade. Nunca tive ensaios tão grandes, também porque não conhecíamos empresas que atuassem no mercado e que precisassem disso, que tivessem essa conexão com a pesquisa”, afirma Mascia.
O trabalho com a madeira iniciou-se no mestrado de Bergamin, seguiu para o doutorado e rendeu frutos para outros estudantes, que têm dedicado suas pesquisas a esse campo de estudo. Segundo Mascia, além do doutorado agora concluído, os estudos na área contam com três mestrados finalizados, uma iniciação científica e três pesquisas de mestrado em andamento.