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Inovação Pesquisa

Novo laboratório da Unicamp testará soluções de acessibilidade no campus

Doutorado de Edilene Donadon, pesquisadora da Fecfau, deu origem ao Laboratório de Pesquisa Aplicada em Acessibilidade Arquitetônica e Urbana

A Prefeitura Universitária da Unicamp inaugurou em maio o Laboratório de Pesquisa Aplicada em Acessibilidade Arquitetônica e Urbana (Lapa), unidade de pesquisa e ensino destinada a tornar o campus mais inclusivo e que testará, na prática, soluções em mobilidade urbana, utilizando o campus como um grande espaço de experimentação. Trata-se de um desdobramento do projeto “Por uma Unicamp Acessível”, idealizado pela arquiteta e urbanista Edilene Donadon e desenvolvido no âmbito da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU). Servidora da Unicamp e doutoranda na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (Fecfau) da Universidade, a pesquisadora atuará como coordenadora do laboratório. 

A operação do Lapa é realizada de forma integrada com a Comissão de Acessibilidade da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH), da qual Edilene também faz parte. Criada em 2019 e presidida por Núbia Bernardi, professora da Faculdade, a comissão conta com um eixo referente a questões de infraestrutura em acessibilidade, muitas dessas ligadas ao Lapa. “Identificamos problemas e os levamos ao laboratório para resolvê-los e para implantar as soluções no campus por meio da execução da Prefeitura”, explicou. Bernardi ainda destacou como a colaboração com o Lapa alia conhecimento acadêmico à prática, vislumbrando a possibilidade de estender o trabalho para outros campi da Unicamp. “O Lapa será fundamental para implementação de medidas de acessibilidade de forma estruturada e contínua, para propor soluções inovadoras com método, passíveis de serem acompanhadas, assim como a avaliação dessas intervenções e a aplicação das correções necessárias.” 

Lançamento do Lapa: criação do laboratório está ligada ao projeto "Por uma Unicamp Acessível", iniciado em 2016 por Donadon
Lançamento do Lapa: criação do laboratório está ligada ao projeto “Por uma Unicamp Acessível”, iniciado em 2016 por Donadon

O prefeito Juliano Finelli destacou a importância de se institucionalizar projetos como o Lapa, para que as ações sejam perenes dentro da Universidade. “A característica da atuação da prefeitura é a transversalidade. O estreitamento entre as áreas da prefeitura foi fundamental para o sucesso de hoje”, afirmou. ”Todas as novas intervenções já têm conceitos de acessibilidade incorporados. Temos um projeto de longo prazo, mas as pessoas estão aqui hoje e precisamos atendê-las de maneira correta, como no caso do projeto VAMUS [Veículo Acessível para Mobilidade Urbana Sustentável].” 

O Lapa já conta com 14 alunos bolsistas e reúne também pesquisadores, unidades colaboradoras e laboratórios parceiros, como o de Aprendizagem em Logística e Transportes (Lalt), o de Ensino de Desenho Universal (LabDunes), o de Práticas Projetuais (Labpraxis), o de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença (Leped) e o Smart Campus. Entre as ações previstas do Lapa, estão projetos como a implantação de tecnologias assistivas, a realização de exposição sobre as invisibilidades das pessoas com deficiência e da acessibilidade, campanhas de divulgação permanente e ainda a criação da Política de Acessibilidade em Infraestrutura. 

Soluções em três níveis 

Foi a partir das dificuldades na rotina de trabalho que Donadon começou a pensar sobre a acessibilidade na Universidade, o que levou à pesquisa de doutorado cuja metodologia embasa hoje o trabalho do Lapa. “Após 30 anos da vigência da norma [ABNT NBR 9050 (1995)], a maioria dos espaços públicos ainda não atende a Legislação. Diariamente, pessoas com deficiência são impedidas de ter acesso a atividades e espaços dos quais podemos usufruir normalmente”, ressaltou. 

Para enfrentar o problema, em 2016, no início do “Por uma Unicamp Acessível”, os responsáveis pelo projeto buscaram entender o grau de acessibilidade do campus. Primeiro, foi feito um levantamento das calçadas, revelando que apenas 20% delas contemplavam as normas de acessibilidade. Em seguida, em 2018, Donadon fez um levantamento das edificações, identificando o nível de acessibilidade dos prédios públicos, com um checklist sendo aplicado por bolsistas para elencar os atributos de cada edificação. 

A ideia foi aperfeiçoada durante o período em que a arquiteta obteve uma bolsa de pesquisa na Universidade Grenoble-Alpes, na França. “Escolhi esse local porque é uma das cidades mais acessíveis do país. A questão da invisibilidade da pessoa com deficiência não existe lá”, contou. É a metodologia de trabalho desenvolvida por Donadon no doutorado em Arquitetura, Tecnologia e Cidade, em andamento na Fecfau sob a orientação de Bernardi, que foi adotada pelo Lapa. 

Edilene Donadon, coordenadora do Lapa: "Pessoas com deficiência são impedidas de ter acesso a espaços dos quais usufruímos”
Edilene Donadon, coordenadora do Lapa: “Pessoas com deficiência são impedidas de ter acesso a espaços dos quais usufruímos”

Donadon propôs uma classificação e uma atuação em três níveis. No caso das edificações, o nível 1 prioriza o atendimento à pessoa com deficiência, realizando adaptações paliativas para que a comunidade consiga realizar atividades e frequentar o prédio, mesmo que com auxílio de profissionais treinados ou de tecnologia assistiva. O nível 2 prevê a contemplação completa da norma NBR ABNT 9050, enquanto o nível 3 diz respeito para as sugestões da norma e absorve tecnologias inovadoras de pesquisa em acessibilidade. 

A partir dessa classificação, a tese se refere à pesquisa de um protocolo de Minimização de Impedimentos (PMI), a fim de elencar as barreiras atuais de determinada edificação e propor soluções paliativas para minimizá-las em um curto espaço de tempo e a baixo custo, levando em consideração o nível 1, além de orientar as ações necessárias para os níveis 2 e 3. Dessa forma, garante-se o atendimento imediato à pessoa com deficiência em curto prazo, enquanto se busca o cumprimento total das leis de acessibilidade em médio e longo prazo.“O foco é o atendimento da pessoa com deficiência. Estudamos as ações relacionadas com o nível 1 de cada edificação. Se for um clube, por exemplo, a piscina precisa ser acessível. Já o nível 3 é de pesquisa, é usar o que já foi produzido na Unicamp e colocar em prática”, esclareceu a pesquisadora. 

O trabalho usa como estudo de caso os edifícios já analisados pelo “Por uma Unicamp Acessível”: o Centro de Saúde da Comunidade (Cecom), a Prefeitura Universitária da Unicamp e a Escola de Educação Corporativa da Unicamp (Educorp). “O prédio da prefeitura é um ‘Pinotinho’ típico [bloco modular de edificação comum na Unicamp]: com duas asas, escada e banheiro nos andares. O do Cecom é bem complexo, tem um trecho de ampliação conectado a ele e é um dos prédios mais usados na Universidade. O edifício da Educorp foi construído após a implantação das normas de acessibilidade; quero avaliar se esse prédio também tem problemas e o que temos que fazer para melhorar”, pontuou Donadon. 

A avaliação e a classificação por meio de checklist vai permitir ao Lapa atribuir o Selo de Acessibilidade às unidades, que mostrará em qual nível o espaço se encontra. Isso garante à pessoa com deficiência a informação a respeito da acessibilidade do prédio. Segundo a doutoranda, a expectativa é que o Cecom seja o primeiro a receber o selo de nível 1; a Prefeitura, de nível 2; e o Educorp, de nível 3. 

Projetos em várias frentes 

O Lapa está envolvido em diversas frentes de trabalho com laboratórios e pesquisadores colaboradores. Para o levantamento quanto ao estado das edificações, está sendo implementada uma metodologia para que as próprias unidades possam realizar o mapeamento. A coleta de dados será agilizada por meio de um teste para automatização do processo que utiliza o escaneamento dos edifícios. 

Também estão sendo planejados treinamentos via Educorp sobre acessibilidade, a fim de trabalhar na conscientização da comunidade. “Como arquiteta, entendo que não adianta só eliminar a barreira física do prédio, as outras barreiras também são importantes, como a atitudinal. Precisamos de treinamentos e campanhas de divulgação para trazer cada vez mais pessoas com deficiência para estudar, trabalhar e usufruir dos espaços”, acrescentou Donadon. 

Outro projeto cria maquetes táteis que permitem a pessoas com deficiência visual entender melhor a disposição dos espaços no campus. A expectativa é de, em breve, instalar uma maquete tátil de toda a Unicamp no Serviço de Informação ao Cidadão, que fique disponível para toda a comunidade. Ao ter contato com uma dessas maquetes, Luiz Fernando Marini disse que, pela primeira vez, sentiu-se dentro da Unicamp. “Na verdade, eu não sabia como o campus era”. Portador de deficiência visual, o servidor trabalha na Diretoria Geral de Administração (DGA)e relatou que uma solução proposta por ele e executada pela Prefeitura facilitou seu trajeto diário: a instalação de uma guia no calçamento entre o prédio da DGA e o ponto de ônibus. “Uma situação simples que resolveu o problema com poucos recursos.” Tais ações de acessibilidade são úteis para toda a comunidade da Unicamp. “Todos nós podemos desenvolver alguma deficiência ou dificuldade de locomoção em algum momento da vida.” 

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