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Atualidades

Como lidar com a esquizofrenia no pós-pandemia?

Evento reuniu familiares, psiquiatras e pesquisadores na sexta-feira (24) para debater ações; doença mental atinge quase 1,6 milhão no Brasil

O Laboratório de Neuroproteômica do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp realizou, no dia 24 de maio, das 9 às 12 horas, no Auditório da Pós-graduação do IB (bloco O), um evento com familiares, psiquiatras e pesquisadores para debater ações para lidar com a esquizofrenia no pós-pandemia de covid-19. A data marca o Dia Mundial da Pessoa com Esquizofrenia, doença mental que atinge mais de 30 milhões de pessoas no mundo, quase 1,6 milhão no Brasil, mas que ainda é estigmatizada e pouco compreendida pela sociedade e pela ciência.

O professor Daniel Martins-de-Souza
O professor Daniel Martins-de-Souza

Desde 2017, o IB promove debates nessa data para refletir sobre os desafios diários das pessoas diagnosticadas com esquizofrenia e de seus familiares. “Esses pacientes vivem menos do que a média mundial e, infelizmente, acabam passando também por maior abuso de substâncias psicoativas, como álcool e outras drogas”, ressalta o coordenador do laboratório e professor de Bioquímica da Unicamp, Daniel Martins-de-Souza. O evento também foi uma oportunidade para mostrar os avanços científicos recentes para melhorar a vida dos pacientes, que “não têm medicações exatamente efetivas para controlar os sintomas dessa doença incurável, crônica e bastante debilitante”.

A importância de tratar o assunto no período pós-pandemia está relacionada às consequências da covid-19 especificamente para esse grupo de pessoas, que experimentou piora no quadro de saúde mental devido ao confinamento. Além disso, aponta Martins-de-Souza, dados clínicos mostram casos mais severos da doença em pacientes com esquizofrenia, com taxa de mortalidade mais alta quando comparada com a da população em geral.

A abertura da programação foi feita pelo diretor associado do IB, Alessandro Farias. Foram ouvidos relatos de familiares sobre as dificuldades e possíveis soluções para facilitar a vida dos pacientes com foco no pós-pandemia, com a presença de Gilda Deeke, mãe de pessoa com esquizofrenia, e de Josiani Piérri, vice-presidente da Associação Mãos de Mães de pessoas com Esquizofrenia (AMME), de Santa Catarina. “Agora, já tivemos um tempo para absorver o que aconteceu durante a pandemia e como isso afetou a vida dessas famílias”, disse Martins-de-Souza.

Uma roda de conversa entre os psiquiatras Clarissa Dantas e Paulo Dalgalarrondo, ambos da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, e Alexandre Loch, do Instituto de Psiquiatria da USP, apresentaram suas experiências clínicas e ações implementáveis pelos familiares. Os cientistas Mirian Hayashi e Síntia Belangero, da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, e Fernanda Crunfli, do IB, falaram sobre as pesquisas desenvolvidas em diferentes laboratórios acerca da biologia da esquizofrenia. Também esteve presente, no evento, o pró-reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho.

Rede de Neurônios (Foto: GerryShaw/WikimediaCommons): dados coletados pelo grupo do IB ao longo de dez anos sugerem novos tratamentos para a esquizofrenia
Rede de Neurônios (Foto: GerryShaw/WikimediaCommons): dados coletados pelo grupo do IB ao longo de dez anos sugerem novos tratamentos para a esquizofrenia

Pesquisas

Estabelecido há dez anos na Unicamp, o Laboratório de Neuroproteômica tem 16 pessoas sob a coordenação de Martins-de-Souza – entre mestrandos, doutorandos, alunos de iniciação científica e de pós-doutorado –, com estudos focados na esquizofrenia. Em especial, o grupo de pesquisa se dedica a compreender o envolvimento das proteínas produzidas por células cerebrais não neurais – astrócitos e oligodendrócitos –, que dão suporte aos neurônios, no estabelecimento, diagnóstico e tratamento da doença.

Recentemente, esse trabalho recebeu o reconhecimento da Schizophrenia International Research Society (SIRS), conferindo a Martins-de-Souza o Basic Research Award de 2023. “É um prêmio de pesquisa básica, isso quer dizer que estudamos os meandros mais elementares da biologia da esquizofrenia em nível celular, em nível molecular”, esclareceu.

De acordo com o pesquisador, os dados coletados pelo grupo ao longo dessa década sugerem que novos tratamentos para a esquizofrenia “devem considerar melhorar o metabolismo de energia e a capacidade de proliferação das células da glia, como os oligodendrócitos e astrócitos. Compostos com esse potencial, como alguns canabinoides e moléculas anti-inflamatórias, devem ser priorizados como candidatos a testes clínicos”.

Um trabalho em andamento se aproveitou do grande volume de dados sobre a covid-19, durante a pandemia, e encontrou similaridades moleculares entre a doença viral e a esquizofrenia. “Nosso conhecimento sobre a neurobiologia da esquizofrenia foi útil ao desvendar aspectos da covid-19 que afetam o sistema nervoso central”, explicou. As descobertas, em vias de publicação, prometem ampliar o conhecimento sobre ambas as doenças.

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